Nos anos 90, o mercado brasileiro estava repleto de opções de peruas familiares. Com uma diversidade de modelos oferecidos por várias fabricantes, esse segmento era amplamente popular entre as famílias brasileiras. Mesmo com a inflação alta antes do Plano Real, o brasileiro se esforçava para cair na estrada, buscando sempre espaço, conforto e economia.
Entre as opções mais amadas da época estava a Fiat Elba, conhecida por seu tamanho compacto, baixo consumo e um dos maiores porta-malas da categoria. Aproveitando o sucesso da Elba, a Fiat decidiu explorar ainda mais o mercado, lançando o Fiat Tempra, seu primeiro modelo na categoria dos sedãs médios, que logo se tornou um sucesso.
A aceitação foi tamanha que a fábrica de Betim operava a pleno vapor, tornando difícil a ideia de lançar uma versão perua do Tempra, conhecida como Tempra SW. Foi quando o governo brasileiro decidiu reduzir o imposto de importação de 35% para 20%, abrindo as portas para trazer essa versão diretamente da Itália. Com preço inicial de US$ 29.400 – equivalente a cerca de R$ 149.000,00 na época atual ajustando pela inflação – a Tempra SW competia diretamente com modelos como a Volkswagen Quantum e a Ford Royale, oferecendo uma proposta mais moderna e atraente.
Design e Detalhes Exclusivos
A Tempra SW conquistava olhares logo de cara. O design italiano se destacava com linhas elegantes, superfícies limpas e soluções inovadoras que, até então, eram exclusivas para o mercado europeu. O modelo trouxe ao Brasil alguns elementos inéditos, como os vidros rentes à carroceria, uma característica de sofisticação que só era vista em carros de categoria superior, como a Chevrolet Suprema.
Outro grande atrativo estava no painel, que contava com instrumentos digitais em cristal líquido, um recurso altamente avançado para a época e jamais visto no Tempra fabricado no Brasil. Além disso, o ar-condicionado era automático e também possuía controle digital, algo extremamente raro na categoria e que reforçava a imagem de luxo da perua.
A Fiat Tempra SW ainda trazia um conjunto de suspensões independentes que ofereciam excelente estabilidade, com configuração McPherson na frente e braços arrastados na traseira, garantindo mais conforto e segurança nas estradas brasileiras. Os freios a disco nas quatro rodas ofereciam frenagem eficiente e vinham com a opção de ABS, uma tecnologia de ponta nos anos 90.
Espaço e Praticidade
Um dos principais atrativos da Tempra SW era o espaço interno. O teto mais alto, com 7 cm de vantagem sobre o sedã, e o porta-malas de 509 litros fizeram dela uma excelente opção para famílias grandes ou para quem precisava de bastante espaço para bagagens. A tampa traseira era dividida em duas partes, facilitando o acesso ao compartimento de carga e aumentando a praticidade.
Com um design bem pensado, a aerodinâmica da Tempra SW ajudava a manter o vidro traseiro limpo, graças a uma entrada de ar em baixo-relevo no teto. Esse cuidado no projeto refletia o compromisso da Fiat em oferecer um veículo funcional e confortável para longas viagens.
Motor e Desempenho
A Fiat Tempra SW era equipada com o mesmo motor do Tempra sedã: um 2.0 de 8 válvulas com injeção eletrônica multiponto Magneti Marelli IAW 603, capaz de entregar 109 cv a 5.750 rpm. Essa motorização proporcionava uma condução suave e linear, ideal para quem buscava conforto em estradas e nas cidades. Um diferencial era a presença de árvores de balanceamento, que ajudavam a reduzir a vibração do motor em altas rotações, proporcionando uma viagem mais agradável.
No entanto, o câmbio de cinco marchas com relações longas comprometia o desempenho em algumas situações. Em testes da época, a perua levou cerca de 29,68 segundos para retomar de 40 a 100 km/h, o que era inferior às concorrentes. Além disso, o tempo de aceleração de 0 a 100 km/h foi de 13,46 segundos, e a velocidade máxima era de 188 km/h, embora muitos testes não conseguissem atingir essa marca devido à falta de uma pista longa o suficiente.
Exclusividade e Valor Histórico
Hoje, encontrar uma Tempra SW bem conservada no Brasil é uma tarefa quase impossível. Com um estilo marcante, ela não agradou a todos os gostos na época, e muitas fontes dizem que o número de unidades importadas não passou de 1.200. Essas poucas unidades importadas fazem da Tempra SW um modelo altamente exclusivo e cobiçado por colecionadores.
Um dos exemplares mais bem preservados é de José Lindolfo Castro, um apaixonado por carros clássicos que mantém sua Tempra SW em perfeito estado, valorizando cada detalhe do veículo para preservar a história desse modelo tão especial.
Fim da Linha para a Tempra SW
A trajetória da Tempra SW no Brasil foi interrompida abruptamente em função de mudanças na política econômica. Em uma reviravolta inesperada, o governo brasileiro elevou o imposto de importação de 20% para 70%, o que tornou inviável a importação do modelo. Essa decisão afetou não apenas a Tempra SW, mas também outros carros icônicos da Fiat, como o Tipo SLX 2.0 e o Tipo Sedici Valvole, que também deixaram de ser importados.
Conclusão: Um Clássico que Representa uma Era
A Fiat Tempra SW não foi apenas uma perua, mas um símbolo de um período em que o mercado brasileiro viveu intensas transformações. A redução dos impostos de importação permitiu que muitos brasileiros tivessem acesso a veículos com tecnologias e designs avançados, ampliando o horizonte de opções no mercado.
Com seu visual moderno, alta funcionalidade e exclusividade, a Tempra SW tornou-se um ícone de sofisticação. Ela representava o auge da engenharia e do design italianos, combinando conforto, espaço e estilo, e foi um verdadeiro marco para quem teve o privilégio de experimentar o que essa perua tinha a oferecer.
Se você tem interesse por carros clássicos ou busca entender a evolução do mercado automotivo brasileiro, a história da Tempra SW é uma excelente lembrança de como o cenário automobilístico era rico e variado nos anos 90. Por tudo isso, a Tempra SW é mais do que um carro; ela é uma peça histórica que reflete a capacidade da Fiat de inovar e introduzir no Brasil modelos sofisticados que marcaram época.