Romi-Isetta: O Carro Compacto Que o Governo Brasileiro Ignorou

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O Romi-Isetta é, sem dúvida, um dos veículos mais emblemáticos da história automotiva brasileira. Com um visual inconfundível e um estilo compacto, ele atrai olhares e sorrisos por onde passa. Ao ser lançado, o modelo oferecia uma visibilidade sem igual, até para cima, caso o teto fosse aberto – algo essencial nos dias mais quentes. Mas sua trajetória foi marcada por um detalhe curioso: apesar de ter sido produzido no Brasil, o Romi-Isetta nunca foi considerado oficialmente o primeiro carro nacional pelo governo.

Para entender a razão por trás dessa decisão, é preciso mergulhar na época em que o Romi-Isetta foi fabricado e compreender o contexto das normas estabelecidas pelo governo brasileiro. Na década de 1950, havia grande incentivo à instalação de uma indústria automobilística no Brasil, liderada pelo presidente Juscelino Kubitschek. No entanto, esses incentivos não foram concedidos ao Romi-Isetta, deixando-o à margem do mercado.

Vamos explorar todos os detalhes e curiosidades desse carro que marcou época e ainda hoje traz um sorriso ao rosto dos entusiastas do automobilismo.

Design Único e Compacto

O Romi-Isetta é um microcarro exótico, com dimensões extremamente compactas e um design que desperta atenção imediata. Ele tem apenas 2,27 metros de comprimento e 1,38 metros de largura, o que faz com que pareça ainda menor do que realmente é. Sua porta única localizada na frente do veículo é, sem dúvida, o detalhe mais peculiar. Para entrar no carro, é preciso abrir a frente e praticamente se encaixar no espaço interno.

O design compacto também é uma questão de funcionalidade. Com o eixo traseiro mais estreito que o dianteiro, ele oferece um visual diferente e único, que só faz aumentar sua atratividade. Não é difícil imaginar a sensação de estar em uma máquina de fazer caldo de cana ao dar partida no motor – uma experiência que, apesar de inusitada, faz parte do charme do Romi-Isetta.

A Fábrica e a Produção Nacional

A produção do Romi-Isetta no Brasil teve início em 1955, pelas Indústrias Romi de Santa Bárbara d’Oeste, em São Paulo. A fábrica adquiriu a licença para fabricar o modelo italiano Iso Isetta, que já era um sucesso na Europa. Essa iniciativa foi um grande passo para o mercado automotivo nacional, pois representava a primeira tentativa de uma indústria brasileira de fabricar um carro localmente.

Apesar do esforço, o governo brasileiro não reconheceu o Romi-Isetta como o primeiro carro nacional. O GEIA (Grupo Executivo da Indústria Automobilística), órgão criado para definir as diretrizes da indústria automobilística no país, estabeleceu que apenas carros convencionais, com duas portas e capacidade para quatro ocupantes, receberiam benefícios fiscais. Com apenas uma porta e espaço para dois (ou três, caso o passageiro fosse uma criança), o Romi-Isetta ficou fora das especificações e, portanto, sem os incentivos.

Essa falta de incentivos limitou o sucesso comercial do Romi-Isetta. Em 1959, por exemplo, o preço do modelo era 60% maior que o do Fusca, que já era beneficiado pela política de incentivos do governo. Ajustando esse valor para a realidade atual, o Romi-Isetta custaria o equivalente a cerca de R$ 65.000, enquanto o Fusca sairia por aproximadamente R$ 40.000.

A Experiência ao Volante

Entrar em um Romi-Isetta é uma experiência única, e pilotá-lo também não é nada convencional. O câmbio, por exemplo, é posicionado de forma invertida, onde a primeira marcha fica para baixo, e as trocas são feitas com a mão esquerda. Encaixar cada marcha é quase como um jogo de sorte, que exige paciência e um pouco de prática – sem mencionar a força necessária para isso.

O volante fica posicionado de forma peculiar, entre as pernas do motorista, e o painel é extremamente simples, com apenas um pequeno velocímetro que marca até 100 km/h e três luzes-espia: dínamo, pisca e farol alto. Os vidros são de plástico, exceto pelo para-brisa, o que oferece uma visibilidade surpreendente. O Romi-Isetta ainda é equipado com um teto de lona retrátil, essencial nos dias quentes, pois o sistema de ventilação é mínimo e os quebra-ventos não são suficientes para refrescar o interior do carro.

Soluções Técnicas Inovadoras

Apesar de ser compacto, o Romi-Isetta possui algumas soluções técnicas engenhosas. O motor de partida e o dínamo que alimenta o sistema elétrico são uma peça única, uma inovação para a época. Outro ponto interessante é que o carro conta com uma reserva de combustível de três litros, ativada por uma torneira localizada sob o banco – algo similar ao que se encontra em motos.

A transmissão do Romi-Isetta é feita por correntes que conectam o motor às rodas traseiras, mais uma solução que reflete o caráter simples e eficiente do modelo. O motor original era um dois tempos, de dois cilindros, mas em 1959 a Romi introduziu um motor mais moderno: um monocilíndrico BMW de 298 cm³, que produzia 13 hp. Esse motor possibilitava uma velocidade máxima de 95 km/h e um consumo de 25 km/l. No entanto, a velocidade real em estradas planas era em torno de 80 km/h.

Sucesso ou Fracasso?

O Romi-Isetta não foi exatamente um sucesso de vendas. Na realidade, ele foi visto pelo público mais como uma curiosidade exótica do que como uma solução prática de transporte. A falta de incentivos e o preço elevado acabaram afastando potenciais compradores, fazendo com que sua produção fosse relativamente curta.

Entre 1956 e 1961, cerca de 3.000 unidades foram fabricadas no Brasil, um número modesto se comparado com outros modelos populares da época. Mesmo assim, o Romi-Isetta conquistou seu lugar na história automotiva brasileira. Sua curta carreira no mercado foi o suficiente para cativar os entusiastas e marcar o início da produção automotiva no país.

Legado e Valor Histórico

Hoje em dia, o Romi-Isetta é um verdadeiro item de colecionador e é muito valorizado entre os entusiastas de carros antigos. Seu valor histórico é inegável, pois ele representa uma época em que a indústria automobilística brasileira ainda estava dando seus primeiros passos. Encontrar um Romi-Isetta bem conservado é raro, e o preço pode ser bastante alto, podendo ultrapassar os R$ 150.000 no mercado de colecionáveis.

Além disso, o Romi-Isetta foi um precursor dos microcarros e deixou um legado que pode ser visto em modelos compactos modernos, que buscam unir eficiência, economia e um design diferenciado. Embora tenha sido vítima de suas próprias limitações e das políticas da época, o Romi-Isetta provou que o Brasil era capaz de inovar e de produzir veículos únicos.

Conclusão: Um Ícone Inesquecível

O Romi-Isetta pode não ter recebido o reconhecimento oficial como o primeiro carro nacional, mas ele conquistou um espaço especial no coração dos brasileiros. Mesmo com suas limitações, ele representa um símbolo de inovação e pioneirismo, mostrando que o Brasil tinha a capacidade de entrar no mercado automotivo com um modelo único.

Ao dirigir um Romi-Isetta, você experimenta uma viagem ao passado, com todas as peculiaridades e excentricidades que só um carro clássico pode proporcionar. E, ao final das contas, é impossível não abrir um sorriso ao ver esse pequeno gigante das ruas brasileiras. Afinal, o Romi-Isetta pode não ter sido levado a sério pelo governo, mas, para os amantes de carros, ele sempre será inesquecível.

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