Do Sonho ao Asfalto: A Trajetória dos SP1 e SP2 em São Paulo

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O mercado automotivo brasileiro nos anos 1970 foi marcado por uma era de grande desenvolvimento, com o surgimento de modelos emblemáticos que foram criados exclusivamente para o público nacional. Um dos exemplos mais fascinantes dessa época são os Volkswagen SP1 e SP2, carros esportivos que homenagearam o estado de São Paulo e deixaram uma marca na história automobilística do Brasil. Estes modelos não só destacaram a capacidade da indústria automotiva brasileira, como também reforçaram a conexão com a cidade de São Paulo, que completava seus 470 anos de fundação na época.

Com um design esportivo, acabamento luxuoso para os padrões da época e uma proposta voltada para o alto desempenho, os Volkswagen SP1 e SP2 rapidamente se tornaram sinônimos de inovação e ousadia. A sigla SP tinha dois significados possíveis: “Sport Prototype” (Protótipo Esportivo, em inglês) ou simplesmente uma homenagem a “São Paulo”, já que o carro foi inteiramente desenvolvido em solo paulista. Independentemente do significado escolhido, o modelo tornou-se um ícone do período.

O Nascimento de um Ícone

A ideia de homenagear o estado e a cidade de São Paulo nasceu em um momento em que o nacionalismo brasileiro estava em alta, com marcas adotando nomes que exaltavam o país e suas regiões. Exemplos como o Willys Itamaraty e o Volkswagen Brasília são evidências de uma era em que o sentimento de orgulho nacional refletia nos produtos.

Foi nesse contexto que a Volkswagen do Brasil começou a “soltar as amarras” da matriz alemã. Durante os anos 1960, a prioridade da empresa era conquistar o mercado brasileiro com modelos como a Kombi e o Fusca, mas a crescente concorrência e a diversificação de produtos exigiam algo mais. O então presidente da Volkswagen, Rudolf Leiding, recebeu a missão de diversificar o portfólio da marca, permitindo a criação de um carro esportivo que se destacasse no mercado.

Com essa liberdade, os designers Márcio Piancastelli e José Vicente Novita Martins foram os responsáveis por conceber um carro que unisse elementos dos melhores esportivos internacionais. O resultado foi um veículo com capô longo, cabine recuada e traseira curta, um estilo que seguia as tendências globais de carros esportivos, como o Chevrolet Corvair e o Porsche. Embora esses modelos internacionais não estivessem disponíveis para venda no Brasil, suas influências foram claras no design do SP1 e SP2.

Desafios e Desenvolvimento

Após o projeto do carro estar pronto em 1970, a Volkswagen enfrentou um desafio significativo: que motor equiparia o novo esportivo? Naquela época, o motor boxer refrigerado a ar ainda era a principal opção da marca, mas não oferecia o desempenho esperado para um carro com proposta esportiva. A solução foi aprimorar o motor da Volkswagen Variant, adotando uma configuração de motor “deitado”, de 1600cc, que produzia 65 cv e 12 kgfm de torque.

Logo, surgiu a necessidade de uma versão mais potente, e o SP2 foi equipado com um motor de 1700cc, capaz de gerar 75 cv e 13 kgfm de torque. Esse propulsor estava acoplado a um câmbio manual de quatro marchas, que era comum nos carros da época. Apesar de não ser uma configuração revolucionária, ela trouxe melhorias significativas no desempenho do carro.

A apresentação oficial dos modelos aconteceu primeiro na Alemanha, em 1971, e, em junho de 1972, o Volkswagen SP1 e SP2 finalmente chegaram ao mercado brasileiro. Para os padrões da época, eram carros bastante avançados, com um design moderno e características inovadoras.

Características Marcantes

O SP1 e SP2 não impressionavam apenas pelo design exterior, mas também pelos detalhes do interior. Os bancos contavam com ajuste de apoio de cabeça, algo incomum na época, e o carro oferecia cinto de segurança de três pontos. Além disso, o porta-malas traseiro se abria juntamente com o vidro, um recurso que era considerado bastante inovador.

O painel era outro destaque, sendo feito em plástico moldado e incluindo instrumentos como relógio, amperímetro e termômetro de óleo, além de um ventilador e rádio como opcionais. Embora não contasse com direção hidráulica ou ar-condicionado, esses elementos eram considerados luxo em carros esportivos da época, e estavam mais presentes em modelos voltados para o público executivo, como o Chevrolet Opala, Ford Galaxie e Dodge Dart.

Desempenho na Estrada

Apesar do design impressionante, o desempenho do SP1, equipado com o motor 1600, deixou a desejar. A potência era insuficiente para um carro esportivo, o que resultou em críticas e, eventualmente, na descontinuação do modelo após apenas um ano de produção, com apenas 88 unidades fabricadas.

Por outro lado, o SP2, com seu motor 1700, oferecia uma performance mais convincente. Com uma velocidade máxima de 160 km/h e uma aceleração de 0 a 100 km/h em 14 segundos, o SP2 era considerado competitivo para os padrões da época. Além disso, o carro contava com freios a disco, pneus radiais aro 15 e uma suspensão independente que proporcionava uma experiência de condução mais firme.

No entanto, os proprietários do SP2 reclamavam de alguns problemas, como a tendência do carro a “sair de traseira” em curvas mais fechadas e a falta de potência comparada a outros esportivos. Embora o preço fosse elevado, equivalente ao de um Chevrolet Opala de luxo com motor de quatro cilindros, muitos criticavam o fato de o SP2 ter um desempenho mais próximo ao de um Fusca, devido ao motor de origem semelhante.

O Legado e o Fim da Linha

Apesar das limitações de desempenho, o SP2 conquistou muitos admiradores e se tornou um símbolo de status. Suas linhas elegantes e seu design inspirado em esportivos europeus, como o Porsche, fizeram com que o modelo fosse desejado por muitos jovens da época. No entanto, a chegada de novos carros ao mercado brasileiro, como o Chevrolet Chevette, o Volkswagen Passat e a própria Volkswagen Brasília, fez com que o SP2 começasse a perder espaço.

O Volkswagen Passat TS, lançado com um motor refrigerado a água de 80 cv, representou uma alternativa mais moderna e potente para quem buscava um carro esportivo. A Volkswagen chegou a considerar a produção de um SP3, que seria equipado com o motor do Passat, mas a ideia acabou sendo abandonada.

No total, foram fabricadas 10.193 unidades do SP2, enquanto o SP1 teve uma produção muito mais modesta, com apenas 88 unidades. A linha de produção foi encerrada em 1976, e os carros se tornaram itens de colecionador, tanto no Brasil quanto na Europa.

O Valor Atual e a Importância Histórica

Hoje em dia, encontrar um Volkswagen SP2 em bom estado pode ser uma tarefa difícil, e os preços desse ícone da década de 1970 podem ser bastante elevados. No mercado de carros clássicos, um SP2 bem conservado pode custar mais de R$ 150.000, e sua raridade o torna um item de desejo entre colecionadores no Brasil e no exterior.

Os Volkswagen SP1 e SP2 são lembrados como um dos projetos mais ousados da Volkswagen do Brasil, representando uma era em que a indústria nacional se aventurava em criar modelos únicos, adaptados às necessidades e ao gosto dos consumidores brasileiros. Esses carros, que homenagearam a cidade de São Paulo, permanecem até hoje como símbolos de uma época de ouro da nossa indústria automobilística, e sua história merece ser celebrada.

Se você tiver a oportunidade de ver um SP2 de perto, não perca. Ele representa não só uma homenagem à cidade de São Paulo, mas também um marco de inovação e design que continua a impressionar gerações, mesmo décadas após o fim de sua produção.

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